É evidentemente um desafio você ter um projeto em mãos de um remake de um dos filmes mais importantes da história do cinema. Mas, em 1979, esse remake já havia acontecido uma vez, e Herzog o faz bem, justamente por seguir na "linha" que o Nosferatu de Murnau seguia. Toda a estética suja e onírica do expressionismo alemão deram vida à história do vampiro em 1922 e 1978. E essa sujeira que me refiro não é só sobre estética, mas sim, como narrativamente, os elementos de terror vêm dessa sujeira (vide os ratos, que são muito melhor usados por Murnau e Herzog como senso de ameaça e de chegada da "praga" do que Eggers). Mas, é difícil imaginar uma "reprodução" desses fatores por Eggers, uma vez que, analisando seu último filme, é perceptível como esse senso passa muito longe, num filme completamente incolor e insensível (O Homem do Norte). Mas, claro, também é errado "exigir" ver do Nosferatu de Eggers, o mesmo que vimos do Nosferatu de Murnau e o de Herzog. O tempo mudou, e com isso, a tecnologia evoluiu, as pessoas passaram a pensar cinema de maneira diferente (infelizmente), e também, o cinema mudou. E com o último "mudou", quero dizer justamente em como a grande maioria dos filmes tendem para o "real" digital, feio e cinzento. Com todos esses fatores postos, não é de se espantar ver do Nosferatu de Eggers um filme completamente higienizado e esterificado.
Pra Eggers, parece importar mais sofisticação nos movimentos de câmera enquanto filma, do que a vivacidade do seu filme. Distante demais de toda a sujeira estética de seus antecessores, parece sacrificar esse estilismo rotineiro para intensificar o estilismo verborrágico (tanto na violência, quanto nos momentos de tensão). Ainda que, consequentemente, existam boas lógicas de enquadramento e espaçamento, tudo parece "morto", e não chega na tentativa que o filme raramente tenta emplacar em estética gótica. A maneira como Eggers capta os movimentos das sombras e de Nosferatu ajudam na construção do terror no filme. Mas, de novo, isso é só uma consequência de apresentar seu filme de maneira tão justaposta à própria imagem, que de tanto prenunciarem, acabam por fazer sentido.
Incomoda também como ele abraça alguns modismo do terror e os usa de maneira indiscriminada durante todo o filme. De exemplos, os sonhos e delírios dos personagens. Não que isso não aconteça nos outros filmes, mas a maneira como é colocada aqui, repetidas vezes, com TODOS os personagens, me parece ser uma falta de rumo do que fazer com a história do que tem em mãos. Por que, oras, você poderia até trabalhar esses sonhos da Ellen para que fosse algo com um "significado" mas enraizado, mas, Eggers parece sempre buscar uma solução barata (acordar com um jumpscare, ou "foi tudo em sonho") e repetir isso inúmeras vezes. Até como ele faz isso com o personagem do Thomas nos momentos em que ele desmaia, parece só uma desculpa pra fazer uma elipse temporal e "descansar" o filme.
Mesmo que erre, alguma das "reimaginações" de Eggers são interessantes, principalmente as que circundam a mística de Conde Orlok. Toda a nova aparência parece combinar mais nesse universo cinzento e sombrio. Um monstro que se espreita nas sombras e faz disso seu maior terror. Também gosto em como ele transforma o "pacto" de Ellen com Nosferatu em algo sexual mesmo, tanto inicialmente da dependência dela como a vontade dele se "unir" a ela. Até mesmo os gemidos quando Ellen está em transe sugerem isso. Mas, as boas imaginações do filme não passam disso. Alguma boa cena ou outra, e, é isso.
É um remake de Nosferatu, mas é tão pouco carregado de personalidade, que poderia ser de qualquer outro filme.

👏👏👏
ResponderExcluir