Eli Roth ficou conhecido como um diretor que consegue utilizar muito bem as convenções do gênero em que trabalhava (principalmente o terror), e ainda assim, conseguir adicionar algum tipo de identidade e criatividade. Verdade é, que seus filmes anteriores, apesar de controversos, possuem um olhar de um cineasta preocupado em adicionar uma visão única no terror. Cabin Fever (2002) e Thanksgiving (2023), por exemplo, são trabalhados a partir de um entendimento do gênero e de recontextualização temporal de clichês Slasher. Fato é que parecia ser um cineasta com certa liberdade para trabalhar em suas obras, coisa que claramente passou bem longe em seu novo filme, Borderlands (2024).
Borderlands é provavelmente o melhor exemplo do que é a gameficação no cinema, seja pelo pouco de bom que há, e principalmente pelo que há de ruim. Desses momentos bons, ficam em como o diretor enxerga seu universo e a abraça essa essência do videogame, seja pela estética ou pelo ritmo, que prioriza o frenesí à uma narrativa que funcione como auxiliadora para o compreendimento do espectador. Mas apesar de em momentos esse ritmo funcionar (a sequência de Claptrap com os Psicopatas, por exemplo), na maior parte do tempo, parece só um filme perdido, que cada vez mais atropela sua narrativa. Sequer temos respiro de uma cena pra outra, porque esse problema do filme parece crescer exponencialmente.
Essa falta de cuidado (ou preguiça mesmo) de transformar o filme em um filme de fato, e não uma adaptação recheada de fanservice, só refletem o quão fraco é Borderlands. Muito cinismo e piadinha, que nem forçando ao máximo consegue tirar no mínimo uma boa interação do grupo (que é a maior aposta do filme, a caracterização de atores de renome em uma adaptação infantil de um videogame). Sem tirar nem por, é uma versão de Esquadrão Suicida (2016) que é pelo menos honesta (não que seja uma qualidade relevante). Todo o mesmo vômito expositivo e desleixado que tem no filme da DC, tem aqui também.
E essa comparação com Esquadrão Suicida foi algo que matutei durante toda a sessão do filme, mas tinha algo que me fazia sentir que o nível não era tão baixo assim, e pouco tempo depois, em uma das cenas mais legais do filme (quando a personagem de Cate Blanchett acha a segunda chave), é que esse filme, apesar de em momentos bem raros, tem um diretor que sabe o que tá fazendo. Por mais que seja um filme claramente encomendado, existe alguém que queira adicionar algum toque de imaginação e criatividade em pouquíssimas cenas. Em certo momento, onde dois personagens conversam, usa em um mesmo plano, o foco da câmera para alternar entre ambos. Algo relativamente comum de se ver, mas em filmes como esse, é quase uma raridade. Uma ou outra cena de ação também possuem algum tipo de apelo estético e filmíco que dialoga bem com essa proposta de videogame, possuindo algum tipo de criatividade. Eli Roth não poupa em deixar bem claro algumas referências, mesmo que não vá além de emulações feitas por encomenda. Mad Max em cenas de perseguição no deserto, John Wick em como lida com os "vilões" nas cenas de ação... Mas o pouco do brilho do filme, é esse: duas cenas e meia de ação crítica, quatro cenas de emulação, e só. Ah, Jack Black dublando Claptrap é engraçadinho.
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